quinta-feira, 14 de julho de 2011

Olha essas flores. São, assim
Regadas pela dádiva da chuva,
Como que estrelas num céu de jardim
Devagar tombando uma a uma.

Furtivamente querendo escutar
Dir-se-ia que um génio de espuma
Procurou saber o seu segredo
E se desfolharam para o castigar.
E eis que a mão da brisa em seu enredo
Sobre o inquieto dorso do arroio
Caprichou em bolhinhas de enfeitar.

Ibn Al-A'lam As-Santamari

(Adalberto Alves)

5 comentários:

rose marinho prado disse...

A natureza sempre desperta estado de espírito favorável ao poema. Esse lirismo no entanto deverá mudar, desaparecer, talvez.
Aqui onde moro, São Paulo, há espaços tão concretados, tão sem folhinha verde ou água azul que fico pensando: quais epifanias ou emoção surgirão para que se escrevam poemas. Não que só a natureza será matéria de poema, mas, sem ela ( que vai sumir, é progressivo o desmatamento do mundo) do que é que se nutrirão os poetas? Não haverá correspondência entre o medo e o abismo do mar; ou a alegria e o campo de morangos.
Vidas Secas é prosa seca e poética, mas secura cujo tema é o avesso da água. No dia em que não mais houver água: nem prosa nem verso. Haverá água de artifício, talvez, glóbulos diários. E a poesia? Desaparece? Aposto que sim.

Ricardo António Alves disse...

Quando desaparecer a poesia é porque a vida desapareceu também...

Olhe, Rose, vou confessar-lhe a minha ignorância sobre São Paulo: capital económica do Brasil, grande metrópole, aposto que tem áreas fantásticas, mas a ideia que faço dela, pelo menos no Verão, é que deve ser infernal...

rose marinho prado disse...

Aqui há áreas bonitas. Mas se há natureza quase sempre é criada, em grandes condomínios. Alguns bairros como o Brooklin ainda têm o verde. A Aclimação tem um parque quase capenga ( o lago sumiu certa vez, as sucessivas prefeituras não cuidavam).
Há lugares bonitos mas a cidade, a metrópole toda é asfalto, fumaça, trânsito parado ...e a nova moda, motoristas dispersivos olhando seus celulares e computadores. Frieza no trânsito, atropelam pessoas feito se atropelassem tomates.
Um lugar com ruas muito ricas, como a Oscar Freire e no centro coisas medonhas como a tal cracolância, que vale a pena você pesquisar.
Aqui é muito feio, muito triste. O que salva são os teatros ( peças comerciais com atores da Rede Globo). Museus são bons. Faltam parques.
O parque perto da minha casa tem lago sem água, discóbulo sem braço e bancos de cimento sem nenhuma decoração. A vida aqui é por um fio, assaltos pra todo lado. Metrô lotado, trens imundos...assim é .

rose marinho prado disse...

No verão tudo para. Vêm as grandes chuvas , enchentes. Pessoas boiam e morrem no meio das ruas.
O noticiário se enche de sucesso, vende essas mortes. Nada se faz para mudar.
Por sorte eu moro num bairro alto, a Aclimaçaõ.

Ricardo António Alves disse...

Vida dura, puxa! Lisboa é uma aldeia... E Cascais, onde vivo, os arredores dessa aldeia.
Um dia destes vou pesquisar a cracolândia e a sua Aclimação.
E, sim, os cinemas e teatro, também tinha essa ideia de São Paulo.