domingo, 9 de novembro de 2008

A UM PINHEIRO QUE VÃO CORTAR

(Ao Severo Portela)

Ó pinheirinho triste, meu irmão,
De fraguedos e chuva alimentado!
Com que mágoa te vejo recortado
No frio azul da tua solidão!

Eu bem entendo a viva inquietação
Do teu olhar em Deus mal confiado!
Bem sei que vais tombar, decapitado,
Mãos erguidas em prece de cristão!

Bem entendo a irreal melancolia
Do teu rosto engelhado, neste dia
Que a toda a volta espalha desconforto;

Mas -- ó corpinho tenro, de criança! --
Que te console, ao menos, a lembrança
Do bem que espalharás depois de morto!

Eduardo Salgueiro

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