quarta-feira, 20 de abril de 2011

NÁUFRAGO

Neste espantoso e surdo mar em que me agito
Bem quero soçobrar... Em fúria cega e tanta
Quando eu lutando em vão me afundo e precipito
Logo uma vaga enorme e torva me alevanta...

Tolda-me o espaço a lucidez... e se medito
Toda a razão se desvanece e se quebranta;
Fito os olhos no vago, e cego... e se os desfito
Logo a fascinação da luz se desencanta...

Se a espaços a distingo, a forma que se esfuma
É a do corpo meu, boiando sobre o mar
Já roxo e mutilado, envolto pela bruma...

E a Dúvida persiste... as ondas agitadas
Amortalham de espuma o corpo, que a boiar
Fita no espaço ainda as órbitas vazadas...

José Coelho Pacheco 

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