sexta-feira, 2 de setembro de 2011

CORAÇÃO

Lembrança, quanta lembrança
dos tempos que já lá vão!
Minha vida de criança,
minha bolha-de-sabão!

Infância, que sorte cega,
que ventania cruel,
que enxurrada te carrega,
meu barquinho de papel?

Como vais, como te apartas,
e que sozinho que estou!
Ó meu castelo de cartas,
quem foi que te derrubou?

Tudo muda, tudo passa
neste mundo de ilusão:
vai para o céu a fumaça,
fica na terra o carvão.

Mas sempre, sem que te iludas,
cantando num mesmo tom,
só tu, coração, não mudas,
porque és puro e porque és bom.

Guilherme de Almeida

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