quarta-feira, 18 de agosto de 2010

o vento. o vento, sabes, traz-me vozes que incendeiam vozes.
o mesmo que passa rente à terra da montanha, o vento,
o mesmo vento que lança a noite sobre o telhado da casa.

e o lume, o mesmo lume que iluminava a cara da minha mãe,
o lume, sabes, arde dentro de mim. esse lume é as vozes que
todos esqueceram. esse lume é as vozes dos mortos no cemitério.

os teus murmúrios gritam chamas dentro de mim. não sofro,
sei que o vento é a respiração do mundo. o lume pergunta:
quantas vezes saíste de dentro de mim para me abraçares?

José Luís Peixoto

Sem comentários: