terça-feira, 21 de dezembro de 2010

OS MEUS AMIGOS

Amigos cento e dez e talvez mais,
Eu já contei! vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.

Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer,
Se ele está cego, não nos pode ver...
Que cento e nove impávidos marotos.

Camilo Castelo Branco

3 comentários:

  1. Super Camilo! Que atual, hein?
    Aliás, a palavra ''amigo'' precisa ser reinventada. Perdeu o sangue, coisa batida. Vulgar.

    Grande sofredor o Camilo. Onde andará a alma dele? Quem saberá?

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  2. Bem a propósito o magnífico poema de Fernando Pinto do Amaral, aí em cima
    Eu acho que o Camilo era um desalmado, sofredor e desalmado.

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  3. Camilo desalmado?

    Nunca tive essa ideia dele. Mas acho que sim...Vou pensar, ele se atirava na vida.
    Sei não...vou pensar.

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